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quinta-feira, 30 de abril de 2009

Metamorfose do tempo, da falta de

O mundo exige que eu seja rápida, eles me pedem paciência. Tenho tão pouco tempo...

Tudo pode acabar amanhã, em uma próxima chuva de maio.

Não posso agradar a Deus e ao Demônio, mas não consigo ser apenas uma. Ocultar meus próprios demônios o tempo todo, mostrar apenas meu lado bom, ou o que eles pensam ser bom.

Se me amassem, me aceitariam como eu sou, do jeito que eu nunca me mostrei e talvez de um jeito que eu nem saiba ser. Se o abismo que há entre meus pensamentos e meus atos sumisse, tudo seria diferente.

A noite me acalma, o dia me consome; mas há algum tempo tudo parece dia, e minhas noites em claro já não me mostram o amanhecer, onde me prometeram nascer tudo diferente, onde as mágoas seriam esquecidas.

Eu não posso pensar. Depois que eu aprendi, me disseram que pensamentos desvendam injustiças que não terão fim... tarde demais!

Ensinaram-me uma coisa que eu não posso fazer, antes me deixassem no meu recanto longínquo, no meu pé-de-serra esquecido, tão bonito. Agora sou assim... passarinho fora do ninho, a quem deram asas e proibiram de voar.

‘Gente pobre tem que ser pobre, cego e surdo, e feliz, porque Deus não quer ver ninguém triste’, é isso que eu tenho que aprender agora, a ficar quieta, como sempre fiz.

Alguém me disse que além de tudo, eu afasto os homens, alguém do gênero, afirmou então que eles gostam de mulheres “burras”, que as pessoas não aceitam minha maneira de ver o mundo, de “descobrir segredos” ... (risos) ... façam-me rir, quem disse que eu preciso agradar, ser sociável, simpática?!

É, muita gente já me disse. Agora quero fazer cursos de oratória, de relações públicas, de gestão de pessoas: tenho que ser como o sistema manda.

SORRIA, você está sendo filmado, o tempo todo, por essa gente hipócrita. E amizades? Quais? Tornei-me alguém tão desconfiada que não sirvo para ser uma boa amiga, não quero magoar ninguém, não é essa a intenção.

Não há tempo para mudar, o preço é alto e o meu limite de crédito irrelevante. Dinheiro compra tudo. Você é um número, não uma pessoa, não mais.

Meus sonhos se perderam no vazio da minha crença, bateram de frente com os obstáculos que encontrei no mundo lá fora. Por amor às causas perdidas continuo lutando, covardemente... até o fim.

Aos lapsos e colapsos de consciência, ou da falta de, vou vivendo, “a dúvida é o preço da pureza” e eu pago muito caro, caro demais para uma pobre moça latino-americana que é feita apenas de sonhos. Duvidar é bom, mesmo que sejas condenado por pensar assim, você deve pensar, eu penso!

O surto está passando, quando escrevo entendo que estou onde devo estar. Aqui, atrás dos brados nas entrelinhas desse escarcéu, verifico que mesmo sem tempo, esse é o momento que eu quero, deixar o mundo em chamas e apenas escrever, simplesmente.

Já não lembro da ira que os seres mórbidos desse universo vivo me causaram, agora tudo está bem, já troquei o CD revoltado de Engenheiros pela força convicta e regional de Zé Ramalho.

O tempo? (...)!
Só a eternidade da minha falta de juízo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Meu Sertão, meu lugar

Não sei explicar a magnitude do cantar dos pássaros desta terra, a dança das nuvens, do vento no pasto, a sincronia da caatinga... a imagem de Deus na semana santa de 2009. Aqui eu me sinto maior. O mundo se apresenta a mim, como se sua natureza ajoelhasse à minha natureza sertaneja, minha essência, Essência Medeiros.

O pé-de-serra onde me criei, agora abandonado, murmura baixinho e só eu posso ouvir ele clamando para que eu não vá, mais uma vez... ali a solidão me engrandece, algo indecifrável, uma sensação indescritível.

O mundo, as grandes cidades, as coisas aparentemente de mais valor, tudo, parecem um grão de areia comparado à imensidão da fortaleza das minhas raízes.

Se tudo der errado, basta que no fim aquela terra decomponha meu corpo, entregue somente a ela, para que então meu espírito saiba que eu fui muito maior que as dificuldades enfrentadas.

E no último dia, no juízo primeiro daqueles que acreditam em sonhos, estaremos todos reunidos, sem lamentos nem arrependimentos. Que Deus perdoe nossa diáspora, que os retirantes castigados pela seca e pela falta de recursos se alegrem sob uma grande chuva de maio, em uma enchente de desejos passados, sonhos não alcançados, crimes perdoados, intenções que realmente valeram. O futuro será isso, a eternidade desta raça forte.

Sem dúvida foi um momento único, encontrado em alguns minutos daquele céu. Meu Deus, quanta perfeição!

E eu voltarei para o meu sertão... algum dia, em alguma dimensão, debaixo da mesma chuva de maio, chuva debaixo da qual nasci. Que da mesma maneira que me trouxeste à vida, sob raios e trovoadas, me leve de volta àquele lugar, Senhor; no momento certo, me entrega à eternidade do meu chão, onde eu sei que habitam os que também compartilhavam deste sonho, acreditando sem conhecê-lo ou conhecendo-o sem lembrar.

Aqui eu sou melhor, no meu lugar, no meu Sertão.
Fotografia: Há algum tempo atrás...

(...)

“Sou um caboclo sonhador

Meu senhor, viu?
Não queira mudar meu verso
Se é assim não tem conversa
Meu regresso para o Brejo
Diminui a minha reza
Coração tão sertanejo
Vejam como anda plangente o meu olhar
Mergulhado nos becos do meu passado
 
Perdido na imensidão desse lugar
...Sou tiete do nosso Rei do Cangaço

E meu regaço culminado em pensamentos
 
Em meu rebento sedento eu quero chegar...”