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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Reação!

Uma vida, dezenas de curiosos, um trabalho, vários, a vida nada significa.
Flashs... aparências, personagens e uma vida sobre o asfalto; sonhos passados e doloridos. Talvez seja feliz, talvez não. Ninguém que estava ali procurou saber como estava, nem eu.

Só uma vida, ou a expectativa de uma possível morte. Pouco sangue, pouca importância.

Um brinde à tragédia, é esse o percurso, pra onde, não sei. Mas sei que foi assim, e sempre será (ou quem sabe não).

Mente perplexa, imagens perturbadoras, não necessariamente a presença da vida ou da morte, mas do medo.

Reações nervosas ainda existem. Elas não se vão, não importa o que eu faça.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Caminhos que só caminhoneiros fazem


Foto: Fernanda Medeiros
Modelo: o melhor pai do mundo =)

Todo mundo tem um amigo caminhoneiro. E se há ainda alguém que não tenha é bom saber o quão é interessante e construtivo ser amigo de um.

Caminhoneiro não é só uma profissão, é um romper indelével de quilômetros, saudades e sonhos.

Como me disse uma vez um velho caminhoneiro, a estrada nunca é apenas um caminho a ser percorrido; é a sua amiga e confidente, quiçá sua melhor companheira de viagem. A cabine de um caminhão torna-se, com o tempo, mais do que a residência ambulante do seu condutor, ela vira uma parte de si mesmo.
Pode reparar que um caminhoneiro não consegue passar muito tempo longe do seu caminhão. Eu lembro do caso de Seu Joel que, depois de 37 anos de rodagem e dono do seu próprio caminhão não se acostumava mais em passar nem que fosse um dia distante de sua máquina. É um lance de paixão mesmo. Ser caminhoneiro é bem mais do que dirigir um veículo longo. Uma vez caminhoneiro, torna-se cúmplice do volante e amante do retrovisor esquerdo. É um silogismo fácil: o Brasil escolheu as rodovias; as rodovias escolheram os caminhoneiros.

O mais interessante é que, por menos escolaridade que possa ter, todo caminhoneiro é detentor de uma riquíssima sabedoria. E de fato, como não haveria de ser, se eles são formados na maior de todas as faculdades, a vida e os seus caminhos nem sempre bem sinalizados? Uma vez um desses sábios da estrada que transportava uma carga de botijões de gás num trucado vermelho de 10 rodas me contava sobre suas inúmeras viagens. O Brasil é muito maior do que aquilo que a gente vê no mapa – ele me dizia com o semblante sereno e o olhar atento no pára-brisas. Falou-me de uma ocasião em que dirigira por 16 horas seguidas q quando finalmente parou para dormir num desses postos de beira de estrada não tinha feito nem metade do caminho ainda.

Pois é. Do Rio Grande do Sul ao Maranhão vão mais léguas do que nossas saudades podem suportar. O Brasil não é apenas grande. Ele também é vasto. É você sair do Nordeste com uma carga de macaxeira e descarregar aipim em Santa Catarina. Os caminhos envolvem nuances. O caminhoneiro não conhece apenas o Brasil. Conhece também o brasileiro. Cada jeito de ser, de se expressar de cada canto do país vai ficando gravado na memória que nunca se cansa desses peritos da estrada. Uma carona dada ali para encurtar o caminho, uma parada ali para rebocar um companheiro que ficou quebrado na beira da estrada.


Vida de caminhoneiro não é fácil. Haja coragem e determinação para viajar por estradas tortuosas fazendo-se disso o buscar do pão de cada dia. Haja solidariedade para parar às quatro da manhã e tirar do prego aquele estranho que pode muito bem ser um daqueles famosos ladrões de carga, mas que também pode ser alguém como você, humilde e de boa índole, e se encontra parado no acostamento com o olhar desesperado e o coração palpitante à espera de uma assistência milagrosa. Haja sensibilidade e bom humor para poetizar os pára-choques e maravilhar os olhos de quem tenta ultrapassar na curva: “A saudade é companheira de quem não tem companhia.”, "Mulheres existem para serem amadas, não para serem entendidas" “Antes eu sonhava, agora eu nem durmo”, “Guarde seu silêncio, para que não fique escravo de suas palavras”. E por aí vai... O caminhoneiro é, antes de tudo, um forte, permitam-me parafrasear o rodado clichê euclidiano. Sua força reside na simplicidade honesta do trabalho, na ânsia de chegar em casa e matar a saudade da família num abraço apertado, no peso da responsabilidade muito maior do que a carga de várias toneladas atrás da cabine.

Que esses mestres da estrada continuem por muito tempo cumprindo sua função, que é muito mais do que conduzir um caminhão na rodovia. Que Deus ilumine cada vez mais os caminhos daqueles tem a missão de movimentar de verdade o comércio do nosso país.

(Esse texto é dedicado a Toinho de Totó, o cabra mais homem que desbrava os recantos desse Brasil velho ao volante de um caminhão Volkswagen Constelation. Toinho Pequeno, como é conhecido, além de exemplo formidável de ser humano, é o melhor amigo caminhoneiro que eu posso dizer que tenho...)

Escrito por Rafael Rubens de Medeiros
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Agora sou eu: então gente, "Toinho de Totó" é meu pai, e eu nem preciso dizer o quanto eu o amo e admiro. Todos os dias ele me enche de orgulho, seja por seus atos, suas lembranças ou histórias que muitas vzs nem eu conheço, afinal, são muitas.
E o mais interessante, é que mesmo sem saber do fato que envolveu meu pai no texto apresentado, foi ele o que mais me tocou... como que inconscientemente eu percebesse as coisas boas que meu herói espalhou pelo mundo afora...Obrigada, Rafael. Bela e justa homenagem aos verdadeiros condutores do país.

Como eu já disse, nem que eu fizesse os melhores cursos, eu me tornaria metade do que "Toinho de Totó" é.
MEU PAI, MEU HEROI!
P.S.: A foto ao lado constatando minha grande paixão e forte tendência às estradas.... ;)

sábado, 18 de julho de 2009

JORNALISTA SEM DIPLOMA - ATESTADO DE HIPOCRISIA




Depois de exatamente um mês e um dia após a “sábia”, para não dizer medíocre, decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em extinguir a exigência do Diploma para o exercício da profissão de jornalista, no dia 17 de junho de 2009, só agora tive coragem para discorrer sobre o assunto, de enfrentar a dura realidade da nossa justiça cega, de acreditar no que me parecia inacreditável. Um sério mal entendido que poderia ser resolvido em um curto espaço de tempo, quem sabe um mês, mas não!

Sem dúvida o Brasil recebeu um duro golpe: a mais alta corte do País cometeu um erro imperdoável. Agora quem irá decidir se seremos ou não jornalistas são os patrões, aqueles que detêm o monopólio da comunicação, que é o que realmente importa, diferente do que aprendemos, quando diziam que a palavra era a matéria-prima desse tipo de profissional, triste engano.

Sinto-me atacada em meus direitos, mas não derrotada. Além disso, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), como entidade de representação máxima dos jornalistas brasileiros, esclarece que a decisão do STF eliminou a exigência do diploma para o acesso à profissão, mas que permanecem inalterados os demais dispositivos de sua regulamentação. Dessa forma, o registro profissional continua sendo condição de acesso à profissão e o Ministério do Trabalho e Emprego deve seguir registrando os jornalistas, diplomados ou não.

Segundo as notícias que circularam em todos os meios de comunicação, por oito votos a um, os ministros do STF votaram contra a exigência do diploma. Eles são o relator Gilmar Mendes e os ministros Carmem Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello. Marco Aurélio foi o único que defendeu a necessidade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão. Os ministros Joaquim Barbosa e Carlos Alberto Menezes Direito não estavam presentes na sessão.

Para o relator, danos a terceiros não são inerentes à profissão de jornalista e não poderiam ser evitados com um diploma. Mendes acrescentou que as notícias inverídicas são grave desvio da conduta e problemas éticos que não encontram solução na formação em curso superior do profissional. Mendes lembrou que o decreto-lei 972/69, que regulamenta a profissão, foi instituído no regime militar e tinha clara finalidade de afastar do jornalismo intelectuais contrários ao regime. Mas afinal, desde quando saímos deste regime autoritário?

Sim, isso mesmo, qual das nossas atitudes não é moldada por uma série de normas estabelecidas pela elite social do país. Compare o salário de um senador e o salário de um funcionário público, ou até mesmo de um jornalista, quem ganha mais, quem possui uma carga horária maior? Isso é a justiça! Vocês a acham justa?

Foi o que eu pensei, provavelmente vocês responderam que não. Mas ninguém se manifesta contra isso, porque somos “ensinados” a obedecer a lei, e a lei sempre é justa, embora existam tantas que se quer são cumpridas. Atrocidades e mais atrocidades contra os direitos dos cidadãos são cometidos todos os dias, e cada vez mais graves, pois se a luta de 80 mil brasileiros foi vencida por oito votos de justificativas mal fundadas, e tudo ficou por isso mesmo, o que mais se pode esperar? Só alerto para que tomem cuidado, o próximo ataque poderá ser a qualquer outra formação superior pensante, não mecanizada, que treina as pessoas para pensarem e, portanto, para contestar aquilo que somente deve ser absolvido pela massa.

Acredito que aqueles que sabem o significado de “massa” não querem ter suas convicções relegadas a uma configuração social que sublima os indivíduos em um bloco inefável e amorfo colonizado pelo fetichismo extremo do mercado, da mercadoria e do consumo.


Teorias à parte, eu realmente não sei mais em que acredito, mas ainda tenho esperanças que essa decisão absurda não prevaleça por muito tempo, até porque não creio que um meio de comunicação arrisque a qualidade de suas divulgações pelo beneficiamento de alguns, e se você cidadão ou universitário que ganha pouco mais de um salário mínimo sentiu-se favorecido com esse desfecho... que pena que eu tenho de você, uma expressão que está bem em gosto pelos nossos parlamentares paraibanos.

Estão confundindo liberdade de expressão e de imprensa e direito de opinião com o exercício de uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética. Com isso, a sociedade é a mais prejudicada, e não é preciso ser vidente para saber onde chegaremos se a justiça do país prosseguir com essa farsa... em um futuro não muito distante a verdade será apenas uma utopia.