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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

GENTE GRANDE


Quando eu era pequena pensava que a vida era feita de etapas pré-definidas para cada pessoa. Imaginava que quando alguém “crescia” já tinha reservado um trabalho, um amor, ou até uma amizade inseparável. Não pensava em dinheiro, todo mundo ganhava em seu “emprego certo” o suficiente para ser feliz, para sair, ir festas, comprar coisas, enfim... quanta inocência!

Sabe de uma coisa? Estou mesmo com saudade do tempo que eu era criança, e por ironia, era louca para ser gente grande. Lembro bem quando minha mãe dizia, “aproveita agora, ser gente grande não é fácil. Todo adulto é um chato com contas a pagar, com assuntos pendentes e pouco tempo para resolver tanta coisa” – eu nunca acreditei! Mas nos últimos dias tenho tido uma vontade enorme de me teletransportar para aquele tempo. Não quero mais brincar de ser gente grande, não é legal! Na maioria das vezes as pessoas são tristes, afastam todo mundo, mas sempre reclamam que estão sozinhas.

Eu só quero meus pais, minha casinha branca ao lado da minha prima teimosa que não cansava de me perturbar e que só hoje eu percebo que, no fundo, eu adorava. Quero minhas bonequinhas, imitações bem falsas da Barbie, mas que eu achava lindas; as roupinhas que mãezinha costurava para elas; e a caixinha de uvas decoradas que meu pai me deu para servir de guarda-roupa para minhas amiguinhas de plástico que hoje eu nem consigo lembrar dos nomes.

Eu era pobre, mas era tão feliz. Nunca entendia o motivo de às vezes flagrar minha mãe triste com papéis em uma mão e pouquíssimo dinheiro na outra. Meu pai sempre viajando, e eu em casa, à noite, com as mãozinhas prostradas, pedindo a Papai do Céu que me trouxesse ele de volta.

Hoje eu cresci, tenho minhas próprias dívidas, meu lugar, e sim, sou muito sozinha. E não é aquela solidão que eu sentia por ser filha única e por não ter amigas o tempo inteiro brincando comigo, é diferente. Dói mais!

Cresci e ainda não apareceu o emprego dos meus sonhos, aliás, não apareceu nenhum (risos). Fiz um curso que até pouco tempo eu nem sabia direito o que era. Fiz por gostar de escrever... mas acontece que neste curso você, quase sempre, não escreve o que gosta, escreve o que lhe mandam.

Não tenho tempo para nada, nem para escrever meus desabafos como antes, prova disso é um blog constantemente abandonado. Tenho amigos de verdade, que eu mataria por eles se preciso fosse, mas que estão tão longe, até mesmo estando perto. Mas não é culpa deles, não é culpa de ninguém. Adultos são assim, chatos, distantes, frios, calculistas, e quando não são, são chamados de loucos.

Eu não sei mais o que eu quero. Não sei se o caminho que tracei, para chegar aonde eu não lembro mais, é o certo. Talvez seja uma das minhas crises existenciais, talvez não. Quem sabe passasse com umas doses de vinho, mas não posso beber. Ou quem sabe passasse com um abraço... que hoje eu sei que não vou ganhar.

Não quero mais brincar disso! Só queria acordar no meio de uma tarde quente no Sertão, com meus dez anos de idade e minhas bonecas. Perceber que tudo não passou de um sonho ruim.

2 comentários:

  1. Há dias em que ando na rua de olhos baixos
    para que ninguém desconfie, ninguém perceba
    que passei a noite inteira chorando.

    (...)Ah, ser filho de fazendeiro!
    A beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego vagabundo,
    é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.

    (...) Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
    e eu gosto bem de ter nascido com essa tara. (Carlos Drummond)

    ...Nosso poeta maior descreve bem, gente boba como a gente, meu amor rs!

    Te amo muito, minha menina/estrela!!!

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  2. Ow meu Deus, que pessoa doce =)
    Como eu sou feliz por ter nascido nessa família... ♥

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