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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Desengano do Ser


E eu pediria perdão ao mundo por todo bem que deixei de fazer, porque o mal é somente “a ausência”. Mas quem implora meu perdão por tantos sonhos ceifados? Ninguém aparece! E deveria – alguém, alguma força, qualquer coisa. Algo que alimente minha dramaticidade artística e mal ensaiada.

Se o mal é somente a ausência do bem, tristeza é a ausência da felicidade? Sonhos, sonhos... a vida que se queria vai ficando distante, as dores [antes tão agudas] hoje pouco são lembradas.

Esse Chronos, tempo mitológico, cíclico, transforma tudo que vem no que um dia foi e voltará a ser, se não na sua vidinha tão passageira, na de outro, quem sabe fruto do teu ventre, quem sabe lixo da sociedade jogado a uma margem qualquer.

Quem anda sem rumo também tem história e sentimento. A gente tem é medo do monstro da consciência, que toda noite [aquela que não se dorme] nos lembra de nossa desumanidade. Temos medo de olhar o abismo! E daí se ele olha de volta? Nietzsche deveria saber que se não o encararmos, nunca venceremos. Não se ganha uma guerra faltando às batalhas, fechando os olhos.

Verdades, mentiras, fantasias, delírios. E se repete na mente a dúvida de Alice naquele seu país de maravilhas:

- Quanto tempo dura o eterno?

E eu agora pergunto:

- Dá tempo? E se for mesmo só isso? Talvez seja melhor tentar fazer com que valha a pena, a memória, as letras, o desengano.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Percurso



Chove, chuva!
Leva essa dor
Lava esse amor.

Leva daqui
A lama que ficou
Soterrando tudo que não brotou.

E se algo restou,
Pelo quê lutar,
A quê adorar?

Água corrente
Suor, saliva e lágrima
A me inundar.

Parte de mim
Alpha e ômega
Em tempestade se consumirá.

E tudo escorre
Tudo finda
Tudo morre.

E no outro dia?
O sol brilha,
Inocente e hostil.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Adoração

Contemplação remota
Distante?
Sem nenhuma razão de ser.

Adorar talvez as poucas lembranças
a eternidade dos poucos toques
e o silêncio do alvor.

Calar
Mentir
Olvidar
Findar-se.

Falecer o desejo ardente
para florir o incorpóreo
Imaterial.

Intáctil,
mas não intocável.
Porque nem só de ódio
viverá o homem!